quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Solitária Companhia

Ainda é estranho, meio angustiante, as cadeiras vazias ao seu redor. Ainda é frustrante suas ideias, opiniões e seus sonhos não serem compreendidos. Ainda é difícil não sentir-se a única da espécie nessa cidade. Mas precisa se acostumar. Precisa se acostumar a ser quem ela é, a acreditar no que acha certo, a fazer o que quer sem precisar de ninguém. Ela precisa se acostumar consigo mesma, a se fazer companhia porque é a única que sempre terá quando todos seguirem por outros caminhos. Ela precisa ser confiante, precisa estar bem informada, preparada, aberta às experiências, à convivência com o desconhecido, às surpresas do destino, se ele existir. Só então perceberá que existem outros desajustados neste planeta, que degustarão cada palavra sua para imediatamente revelar suas opiniões sobre o sabor e não apenas fingir que escutam quando, na verdade, não dão a mínima. Então conversarão por horas sobre assuntos filosóficos, sobre linguagem, cultura, cerveja, compartilharão os melhores e complicados momentos de suas jornadas e contarão suas vidas em detalhes com mais intensidade e coragem do que se estivessem em frente a um espelho. Mas...bem...até lá, ela precisa aprender a se fazer companhia. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"Ses" e "Serás"

Se não pensasse tanto sobre tudo, será que seria mais fácil? Se tomasse uma atitude, será que daria certo? Se desse uma chance para si mesma, será que seria feliz? Se não vivesse com tanta pena de sua situação, se não diminuísse sua condição, será que chamaria mais atenção? E se continuasse a viver um dia de cada vez, preocupando-se apenas com o que tem de fazer e nada mais, será que pecharia com certo alguém na rua, que lhe pediria desculpas pela distração, olharia no fundo de seus olhos e perceberia que ela é tudo que procurava? "Ses" e "Serás", tudo de que sua vida é feita. Sempre desejando demais e tendo de menos. Sempre queixando-se de sua miséria existencial e guardando todos os seus sentimentos para si. Ela é um poço de profundidade inexata. A verdade é que construiu muitos muros para se proteger de tudo que lhe dá medo. Agora, nem ela sabe como derrubá-los. Talvez alguém devesse aprender a escalar. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Realidade Ordinária

Férias de inverno que deveriam ser férias do inverno. Quatro horas improdutivas de trabalho por dia. Manhãs perdidas em um sono intranqüilo. Energia gasta em cinco dias de academia por semana. Tudo o que ela queria era que sexta-feira chegasse logo. E chegou. Sempre chega. A noite estava agradável apesar de um tanto fria. Ela vestiu as botas e seu casaco preto. O mesmo lugar das outras sextas-feiras, um antro de pessoas interessantes e de pessoas babacas. Um lugar onde se sentia confortável, um lugar onde podia falar sobre a vida ou treinar seu inglês com um estranho que repentinamente senta ao seu lado. Um copo atrás do outro, ri das gracinhas do cara do bar que parece ser judeu, os pensamentos vindo na mesma velocidade que as ondas se formam e quebram no mar. Os olhos castanhos atentos, sempre em busca de outros olhos que procuram o que os seus possuem. Ela sofre, castiga a si mesma, nunca deixando ninguém enxergar a sujeira que esconde embaixo de sua máscara de feições alegres. Ela toma o último copo de cerveja, sai do bar quase tropeçando em seus calcanhares, entra no carro de um cara que nunca viu, acompanhada de uma amiga e outro estranho. Coloca o cinto, ainda não está bêbada o suficiente para esquecer. Entra em outro bar, vai ao banheiro e ri da realidade sonhada da geminiana perdida. Ela também estava sonhando, ela também estava perdida. Todos estão perdidos e todos estão tão desesperados para se encontrar. Será que é possível? Jovens loucos e tristes e insatisfeitos e ingênuos correndo pelas ruas da cidade como se fossem imortais. A verdade é que eles têm medo. Medo de viver uma vida menos ordinária e mais genuína, livre dos valores egoístas, livres de um sistema programado para fazê-los acreditar que seus sonhos são impossíveis.